Nações Literárias
Resumo
"N ão há símbolo mais impressionante da moderna cultura
do nacionalismo do que os cenotáfios e os túmulos de Soldados
Desconhecidos. A reverência pública outorgada a tais monumentos,
precisamente porque estão deliberadamente vazios, ou ninguém sabe
quem jaz dentro deles, não encontra precedentes em épocas passadas
[ ... ]. Por mais que esses túmulos estejam vazios de quaisquer restos
mortais identificáveis, ou almas imortais, eles estão, porém, saturados
de fantasmagóricas imaginações nacionais" .1 A arguta observação
de Benedict Anderson, ao estudar a afinidade da imaginação
nacionalista com as modalidades religiosas de pensamento, oferece
uma pista instigante para o encaminhamento da questão da historiografia
literária que se propõe aqui esboçar. As histórias da literatura
são como monumentos funerários erigidos pelo acúmulo e empilhamento
de figuras cuja atuação histórico-artística, em ordem evolutiva,
pretende retratar a face canônica de uma nação e dar a ela um
espelho onde se mirar, embevecida ou orgulhosa de seu amor próprio
e pátrio. Carregam em geral esse caráter fantasmagórico que nem a
solidez de pedra da letra impressa para sempre no papel consegue
desfazer.