O TÓPOS DA NEOCRACIA: INTRODUÇÃO & GENEALOGIA
Palavras-chave:
adulto;, criança;, literatura;, neocracia;, tóposResumo
Este artigo introduz no campo dos estudos literários o tópos da neocracia. Com base na definição de tópos de Carl Meiner se busca, em primeiro lugar, definir o que é uma neocracia: construção ficcional de sociedades ou comunidades de crianças que se ordenam, se mantêm e se preservam sem a tutela de adultos, às vezes sem a colaboração dos adultos e outras vezes à revelia dos adultos. Em seguida é proposta uma genealogia que aponta o contexto no qual o tópos parece ter surgido, e são comentados alguns romances que tanto servem de marcos iniciais de sua manifestação, já na passagem do século XIX para o século XX, quanto demonstram a presença do tópos no campo literário do século XXI. Ademais são feitas reflexões acerca de como ocorreu o processo histórico que construiu as ideias ou as idealizações de adulto e de criança que prevalecem em nosso tempo — ambos os conceitos entendidos como identidades, mais do que como condições psicobiológicas do corpo. Argumenta-se que uma das funções ou intenções do tópos da neocracia é criticar tais idealizações, sobretudo no que diz respeito à representação da criança como ser humano marcado por faltas e por incapacidades que fariam dela inapta para viver em meio aos adultos e para tomar parte nas decisões que dizem respeito ao bem-estar coletivo. Portanto o tópos da neocracia se manifesta em textos fictícios, mas seus efeitos ultrapassariam a ficção, pois, ao gerar novas representações da criança, poderiam ajudar a deslocar as crianças da vida real do isolamento físico e da marginalidade política em que se encontram contemporaneamente.